confissões e confusões

"O homem não vive apenas diversões" - disse-me o homem alto, magro, de bigodes finos e a cartola preta caída na mão.

Fitei-o por alguns segundos e então rebati: "Homens não vivem apenas diversões mas sabem se divertir muito bem" - eu odiava o fato de ter que concordar com a falta de sentimento em suas palavras, ou, teria de admitir que ele blefava muito bem.

O homem andou dez passos (eu e minha terrível mania de contar passos no silêncio) ao meu redor e parou exatamente em minha frente encarando-me com um olhar profundo, com a cartola ainda na mão.

Me preparei para ouvir a próxima frase e responder instantaneamente mas ele não dizia nada.
Por um momento até cheguei a pensar que estava tentando me dizê-la telepaticamente ou apenas me desafiando com aqueles olhos penetrantes.
“Obviamente nos divertimos muito bem quando o fazemos, minha cara. Mas também sabemos muito bem o que queremos quando é verdadeiramente importante para nós” – seu olhar foi de contentamento por ter dito aquilo e com um sorriso escondido no canto da boca levantou a cartola em um movimento, encaixando-a em sua cabeça.

Não precisei mais rebater, mandei a ele outro sorriso, me virei e saí contando meus passos para ver onde me levariam.

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